sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Somos nós a viagem e o tempo...


Manuela Correia Brito
Somos nós a viagem e o tempo...

aos poetas só se pedem palavras e silêncios porque o tempo em que vivo arquiva sofrimentos da guerra da esperança do espelho do olhar das almas
no chão silenciado, as vozes vêm ao meu encontro e o céu povoado de sossegos depurados de rendição derrama vocábulos que posso revisitar
no encontro com o chão, harmonizo a sílaba da saudade do olhar do gesto, do sonho sublimado e  da memória do peito rasgado de dor a descrever a morte.
no meu incauto a fertilizar o espírito concilio-me com a natureza nas colheitas do silêncio
encontro as palavras adormecidas no livro em chão emudecido pelas águas junto às árvores e reinvento o tempo incerto das minhas rugas que me enchem de claridade
as sílabas espalhadas no meu leito irmanam com as árvores do mundo, chão fertilizante para a terra do espírito que fermenta quietude
e num canto de mim guardo um musgo, não de trevas mas de luz e no enleio do fio dos dias um abraço de Deus.
a descrever o sentido da palavra a flamejar como um círio ficarei para sempre no tempo incerto e no
burilar da minha solidão escrevo na água, memória do sempre, retalhos rendilhados de esperança.
sou raiz a visitar os sonhos, somos nós a viagem e o tempo.  in testamento, Cristina Correia.