sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

diz-me, poeta amigo...


Cerne e o verso / Cristina Correia
AUTOR(ES): 
Correia, Cristina
PUBLICAÇÃO: 
[S.l. : s.n.], 2000 ( Lamego : -- Tipografia voz de Lamego)
DESCR. FÍSICA: 
64, [4] p. : il. ; 21 cm
DEP. LEGAL: 
PT -- 150874/00
CDU: 
821.134.3-1"19"

diz-me, poeta amigo__em que porto brotam os caminhos do pensamento-verdade, da luz, da liberdade...…porque o meu ser sustido pela vida e pela morte arquiva as palavras não somente dos poetas mas dos seres terrestres dos pássaros dos gatos do mar dos rostos dos sofrimentos da guerra da esperança do espelho do olhar das almas__________diz-me, poeta amigo o rio há-de trazer os recados de Deus_____o mar segredará os mistérios de ser e ser-se…porque o tempo em que vivo morre num porto de África junto ao Geba onde nasceu …porque se o tempo albergar como um rio onde tudo flui as quimeras dos humanos_______Ah… então não haveria tempo para tantos séculos de história nem espaço para os tomos de ciências ancestrais______ diz-me, poeta amigo o abraço de Deus é luz, flor lilaz, trepadeira selvagem, vales e montes, árvores de ninho, nossos filhos, o dom da ubiquidade, fontes de hiatos vazios... …que do nada ao menos fique minha razão de viver meu filho ventre rasgado para teu viver meu monumento de palavras...porque do trabalho acordo-me ser aprisionado abre-se um lugar no silêncio do poente dos dias__ e aos poetas só se pedem palavras e silêncios...___porque somos assim numa guerra assimétrica a doer a erradicar famílias somos assim humanos de Deus…que fique só um monumento de palavras sem dor sem mágoas. …porque o meu ser sustido pela vida e pela morte arquiva sofrimentos da guerra da esperança do espelho do olhar das almas.______ digo-te, poeta amigo o abraço de Deus é um poeta amigo, também. Cristina Correia

Silencioso diálogo...
É tempo de espera
ou
apenas
estranho tempo em mim se esgota,
os linhos, os frutos, a memória.
Encontro pinturas animistas
a povoar o cântico das palavras.
Os meus passos peregrinos caminham
com amor
até à eternidade.
in Cerne e o Verso, Cristina Correia.