quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pequeno conto de Natal...



Gosto de gente! Por vezes próxima, respirando ao mesmo ritmo!.. Outras (quase sempre) apenas momentos, riscos de acaso, meteoritos intensos na solidão da cidade. Uma viagem de autocarro (ou de metro) é sempre uma revelação inesperada. Pequenos nadas que nos perseguem (momentos, horas, dias?) e que exigem que os soltemos, de tão intensos...

Gosto de gente anónima. De seus rostos. Da linguagem subtil dos seus gestos. Do seu porte. Do pulsar do meu Povo!...

Por vezes, a cor desânimo, toma o sangue. O cepticismo cria raízes e uma ironia triste ocupa o espaço da esperança. Porém, do meio da multidão, surge tantas vezes, sem nos darmos conta, uma imagem, o resto de uma carícia, uma ternura, uma beleza inesperada que humaniza e reconforta. Que nem sempre estamos disponíveis para ver e que, outras vezes, guardamos como refrigério de alma...

Falo-vos da minha última viagem de autocarro entre o Rossio e o Cais de Sodré! Na curta distância, cenas dignas de um pintor impressionista - o melhor e o pior de um Povo concentrado no escasso espaço de um autocarro, à hora de ponta. Nada que seja diferente de outras viagens! Até que......

Uma jovem mãe, de rosto trigueiro e olhar apaziguado, entrou, aconchegando no colo uma criança de escassos meses. Sozinha, face as intempéries e os balanços da vida, ali bem simbolizados nos apertos e balanços do autocarro. Um jovem, de brinco na orelha e crista de galo loira, cede-lhe o lugar (no meu íntimo, um sorriso freak!)

Acomodou-se a "minha" jovem Madalena (era, de certo, este o seu nome!) com o bebé nos braços, sereno que nem um anjo. E alheia a tudo que não fosse a sua novel maternidade, a jovem soltou o seio da blusa (mármore puro) e a boca da criança, em esplendor, buscou afoita o mamilo, assim exposto em dávida!

Vi então olhares brilhantes nos rostos cansados dos transeuntes. Vi ternuras caladas e inesperados silêncios. Vi orações pagãs em cada sorriso!..

E, a minha alma cansada e ateia, entoou então um cântico de vida - "Glória in excelsis Deo!..."

Publicada por Heretico