quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"A minha visão daquele Natal" de Arménio Vasconcelos

Fundador e Director da Casa-Museu Maria da Fontinha – Castro Daire - Viseu

A minha visão daquele Natal

A chuva caía incessante.
Na quietude da casa casada com a Natureza, olhava pela vidraça a paisagem verde baça do arvoredo e o plúmbeo ar que escondia os céus, ouvindo os balanços sem retorno das águas que vinham dos montes e se agigantavam com as que caíam em bátegas estrondosas e traziam consigo os enormes grãos de saraiva.
Era Inverno em Portugal, nas margens do Lis que deixara de sorrir e, submisso, se deixara vencer pelas forças dos elementos.
Não se vislumbrava qualquer flor em toda a tela que só findava no horizonte e as montanhas encontravam-se cinzentas e encobertas pelas névoas que Éolo impelia na direcção do Oriente.
Dia triste, mas com vida, aquele dia…
Os meus olhos enfrentavam sobre a lareira onde as achas ardiam e no seu crepitar soltavam reluzentes chispas, mostrando-me as cores da alma e do Hades, um presépio: simples, calmo, luminoso, da cor da palha seca que amparava aquela Luz que se reflectia no alto sob a forma de estrela.
Tudo se conjugava, neste cenário, como um só elemento, um só corpo, sereno e perfeito, na paz e no calor soprado pelos animais que junto d’Ele ruminavam, dispensando agasalho a cobrir aquele corpo que sorria: o do Menino-Deus que tanto iria padecer.
E em ambas as direcções, antagónicas, de diferentes luz e paz, continuava eu, absorto, a dirigir o olhar para tudo compreender.
Então, conversei com Ele e roguei-Lhe que mantendo-se a unidade e a sublimidade do presépio, a Natureza se acalmasse, o regato voltasse a ser cristalino e os montes mostrassem de novo a sua identidade.
Sorrindo-me sempre, o Menino levantou ligeiramente a palma da sua mão que reflectia a luz da estrela situada no cimo do Seu presépio.
Nada senti por momentos, nem onde estava nem o que via, até que debaixo das pétalas que voavam sobre todo aquele cenário, os meus olhos passaram a ver e a sentir a Natureza acalmada, a luz do Sol a cobrir os vales e as serras e, junto ao regato agora prateado e vestido de águas límpidas e de pedras lavadas, uma singela flor branca de corola ridente apontando na direcção da Luz e lançando-Lhe a sua fragrância inebriante e doce, mágica e sublime.

É preciso conversarmos com o Menino-Deus. Crermos. Deixarmo-nos entrar no mundo encantado do irreal e na Sua companhia nos encontrarmos com a realidade que afinal é sempre calma, luminosa e musical.

Tudo isto me aconteceu naquele Natal.





É este o meu presépio

Natureza inclemente
Cinzenta e estrondosa
Naquele momento
A Poente do lugar
Donde emanava a Luz formosa

Diferentes cenários e sentidos
Nas linhas do meu olhar
São vales, montes, prados, rios e mar
E aqui os animais, deitados, reunidos.

Aquecendo as palhas e o corpo débil
Daquele Menino-Deus que sorria feliz
Nos braços amorosos de Sua Mãe

Num amor Divino, rico e fértil
No instante em que raiava a luz
D’Aquele que tanto padeceria na Cruz.


É esta a minha mensagem, simples mas sentida, para todos aqueles de quem gosto.

NATAL de 2008
O Arménio Vasconcelos