terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

À Procura de Uma Identidade Cultural - o trabalho e o lazer no contexto rural do espaço duriense


Miguel Torga – Trabalho e lazer no “Reino Maravilhoso”

1. Breve apontamento bio-bibliográfico sobre Miguel Torga

Miguel Torga nasceu no ano de 1907 em São Martinho de Anta - Vila Real.
O escritor português frequentou o Seminário de Lamego, mas cedo emigrou para o Brasil onde trabalhou arduamente.
Já em Portugal, entre 1926 e 1933, frequentou e terminou o Curso de Medicina na cidade de Coimbra. Com alguns poetas e doutrinários, em 1927, comungou do projecto literário Presença - Folha de Arte e Crítica, do qual fizeram parte, entre outros, Vitorino Nemésio, Irene Lisboa, Casais Monteiro, João Gaspar Simões, José Régio.
Segundo Jacinto Prado Coelho[1] os Presencistas advogam uma arte, comunicada pela humanidade densa, precisando o artista de ser um Homem rico em experiência humana, com uma finalidade estética.
Porém, Miguel Torga aderiu e lançou-se noutros projectos, como a participação em Sinal e Manifesto, revistas de divulgação do modernismo e da arte viva e vigorosa, que valorizam a memória escrita, dignificando o homem como ser.
António Freire considera que

Os factos e circunstâncias ambientais que condicionam a vida de Miguel Torga são redutíveis a quatro elementos básicos: família rural de aldeia transmontana; Seminário de Lamego; emigrante no Brasil; vida em Coimbra. Aqui devem situar-se duas vertentes: a profissão e a vocação artística.[2]

A obra de Torga, como sublinha J. B. Chorão, ilustra a realidade, a odisseia de um povo maravilhoso, dentro dum espaço universal. Trás-os-Montes é, por excelência, a essência da sua obra, o palco que o autor evoca, narrando as venturas dos seus personagens. O escritor consegue, com profundo sentimento de identidade, dar um sentido divino ao espaço, que funciona como terra genesíaca.

A terra é o santuário da sua peregrinação contínua, a sua paixão, diria mesmo a sua obsessão. Mas, ao contrário do francês do rien que la terre, Torga ausculta na terra o que, brotando dela, se ergue acima da terra. A terra é o lugar concreto da aventura humana - da aventura singular e colectiva -, mas, subterrânea a essa história visível, registada em factos, nomes e datas, há outra história, uma história invisível e secreta, de que perdemos muitas vezes a chave e o sentido.[3]

Também David Mourão-Ferreira refere:

De entre os maiores escritores do mundo de hoje - em cujo número, aliás restrito, se conta indubitavelmente, por diversas razões, o nome de Miguel Torga - bem raros serão, como ele, personalidades de tão nítido recorte individual e, ao mesmo tempo, personalidades tão emblematicamente representativas desta crescente sucessão de realidades: a terra que os viu nascer; a língua que os foi formando; os gradativos contextos - tanto geofísicos como culturais - em que essa terra e essa língua se integram; finalmente o conjunto, ainda muito mais vasto, daquela humaine condition de cuja forme entière justamente um Montaigne se sabia também portador e intérprete. [4]

Miguel Torga foi um criador de inquietação espiritual - que nasceu para cantar a glória da vida. Realça a palavra, tornando-a verdadeira poesia.
A sua obra é testemunho de um homem e de um poeta que teve da vida e da arte um profundo entendimento. Em registo autobiográfico Torga escreve, por volta de 1950:

Gosta de música, particularmente de Bach.
Mas do que gosta a valer, é de calcorrear os montes do seu Douro transmontano e os paúis dos
campos do Mondego à caça de perdizes e de narcejas. (...)
Gosta da solidão, e preza muito quem lha respeita. (...)
Anda sempre a morrer, e não há ninguém que gaste mais energia. (...)
Se pudesse recomeçar a vida gostaria de ser mais poeta ainda.
Vive pelos nervos.
Não há ninguém mais amigo dos seus amigos, e tão mal compreendido por eles.
A arte para ele não é uma ambição: é um destino.
A sua terra é para ele como para uma planta: sítio de deitar raízes.[5]

Torga foi um autor consagrado e premiado com diversos títulos, entre os quais distinguimos o Prémio Camões, que recebeu em 1989. Faleceu em 1995.
Linhares Filho salienta a propósito de Torga:

Terminada a leitura de toda a obra poética de Torga, a impressão que nos fica, ligada à consciência que em nós se formou da grandeza artística dessa obra, é a de plenitude, isto é, de completa realização estética, abrangendo o psicossocial, o telúrico e o ontológico, o que equivale a dizer o humano em sua essência.[6]

Embora a forte ligação à terra de Trás-os-Montes seja uma constante na obra de Torga, o escritor é intérprete de um sentir humano, universal:

Torga é um poeta em quem um país se diz (...) Um poeta que através de uma apaixonada consciência do país natal nos ensina a procurar a verdade universal da nossa habitação humana terrestre.[7]

Escritor independente, política e socialmente, nunca se integrou em correntes literárias. Escrever, para Torga, é, sobretudo, um acto ontológico. Repare-se como critica as teorias estruturalistas aplicadas à literatura, num texto de Junho de 1976 extraído do último volume do Diário:

Que é senão vontade de destruição essa gana sistemática de análise, que disseca uma página tão encarniçadamente que a deixa seca, mumificada? (...)Mas o verbo incarnado resiste a tudo. Outrora, à caturrice dos gramáticos; agora à filáucia dos cientistas. Escrever é um acto ontológico. (Diário XII, p.150.) [8]

Miguel Torga usa a linguagem de uma determinada região. Verifica-se também que seus contos se passam em lugares pobres, denunciando a miséria em que vivem as pessoas, como por exemplo os cardenhos onde viviam os trabalhadores das vindimas. No entanto, a sua narração também é de cunho metafísico: na sua obra encontram-se muitas questões sobre a vida, o homem, o mundo, a morte, o destino, Deus.

Das suas obras constam:
Poesia - Ansiedade (1928), Rampa (1930), Tributo (1931), Abismo (1932), O outro Livro de Job (1936), Lamentações (1943), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do homem (1950), Alguns poemas ibéricos (1952), Penas do purgatório (1954), Orfeu rebelde (1958), Câmara ardente (1962), Poemas ibéricos (1965).
Ficção - Pão ázimo (1931), A Terceira voz (1934), A Criação do mundo (5 volumes, 1937, 1938, 1939, 1974, 1980), Bichos (contos, 1940), Contos da montanha (1941), O Senhor Ventura (1943), Novos contos da Montanha (1944), Vindima (romance, 1945), Pedras lavradas (contos, 1951).
Teatro – Terra firme (1941), Mar (1941), O Paraíso (1949).
Literatura autobiográfica – Diário (16 volumes, 1941 –1995), Portugal (1950).

2. Trabalho e lazer em alguns textos do autor

Um conjunto de manifestações de cultura popular tradicional surgidas de forma espontânea, como, por exemplo, a língua, a dança, os contos, os jogos, a música, o artesanato, os provérbios, etc., retratam a alma de um povo. Carregados de valores estéticos e exprimindo sentimentos, vão influenciando a cultura de um país.
Todas estas manifestações funcionam como um arquivo onde se conserva a memória colectiva de um povo, onde todo o saber e conhecimento tradicional é transportado para as gerações seguintes, numa simbiose de oralidade, escrita e vivências praticadas em épocas festivas e momentos históricos. Deste modo, através da literatura, de registos musicais e outros, a cultura actua como elemento de coesão da sociedade humana, e ao mesmo tempo, como elemento identificador de um povo.
É de salientar a importância das classes rurais neste processo. Elas são o húmus da cultura tradicional, levam-na consigo para toda a parte, difundindo-a e adaptando-a, «pelo Norte e pelo Sul do Rio Douro, onde multidões se encontram durante as semanas das vindimas.»[9]
Lendo e analisando o romance Vindima[10] de Miguel Torga, partimos para o Mundo, apelando para a importância histórica do Douro, raiz do povo português, para que o Douro seja sempre respeitado como Património Mundial da Humanidade.[11]
A obra de Miguel Torga fala da região transmontana e da do Douro, focando as suas riquezas e pobrezas, falando do povo, das gentes, dos comportamentos, hábitos e modos de estar no mundo.
Situa espacialmente as suas criações nestas regiões. E é aqui que se movimentam grande parte das personagens da sua ficção. São personagens possuidoras de caracteres humanos, com defeitos e virtudes.

O senhor Lopes, apertado entre dois corpos vizinhos e dois cabazes, rilhava os dentes a olhar os intrusos. Gente miserável, suja, magra, numa ânsia dolorosa de viver e de vencer.
Também ele fora assim, matrapilhoso e sôfrego. De humilde condição, quisera a todo o custo triunfar. E subira! De degrau em degrau, Deus sabe por que processos, chegara.[12]

Não conquistara a serena estabilidade dos eleitos. Por mais voltas que desse, era um condenado às penas de um purgatório social. O inferno em baixo, o céu em cima, e ele no meio, entre o ódio e o desprezo.
Mas a dor aguda voltou meia hora depois, quando passou carrancudo por entre alas dos seus trabalhadores, perfilados, humildes, mansos como cordeiros. Aquele respeito não tinha o gosto da submissão definitiva. Sabia-lhe ao trovisco de uma resignação provisória.[13]

E a quase mudez indignada do início transformou-se daí a pouco na ruidosa feira de sentimentos, habitual em todas as colheitas, gradas ou não, e particularmente justificada no remate inesperado daquela.
Animados da mesma violência, vinham à tona o ódio, o amor e a compaixão. Toscos e limitados às paredes do seu pequeno mundo, sem cultura e sem horizontes, arrancavam da alma, indiscriminadamente, pedras preciosas e seixos. Instintivos e contraditórios, estavam longe ainda de acertar o passo das paixões no caminho da livre dignidade que de longe lhes acenava. Animais domesticados há muitos mil anos, tomavam por condição o jugo que um gesto quebraria. (...)[14]

Torga valoriza a terra e os homens que nela sofrem e dela vivem. Uma realidade transmontana, dura, fria e pura.
Da sua escrita ressalta uma imagem significativa, infinita, emotiva e exemplar de uma paixão pelo povo português, em particular pelo transmontano, irmão de Torga.
A sua terra de infância é o lastro de toda a sua obra, terra onde «Quem vê o seu povo vê o mundo todo».[15]

Minha terra,
Meu povo,
Que sempre vos amei,
Que sempre vos cantei,
E que nunca jurei
O vosso nome em vão.[16]
(...)

Em Vindima, romance de 1945, Miguel Torga ilustra com paixão e de uma forma singular o seu povo.
Retratando a vindima, deixa transparecer o trabalho árduo dos homens que, para ganhar o pão, têm que sofrer angústias, ansiedades, desenganos. Apesar disso mantêm-se com a alma viva e alegre nas suas tarefas difíceis, como se o destino vivesse lado a lado de Deus.

Embora doridos dos rins, do trabalho e da rigidez cautelosa, pareciam estátuas derrubadas. Estoicamente, concentravam as suas forças e o sofrimento para a possível salvação. Tinham-se erguido já alguns dos companheiros, e saído como fantasmas para a vinha a despejar as necessidades. Haviam voltado a seguir, aliviados e quase a dormir em pé. E também isto os excitava, lhes abria horizontes aos sentidos, que se retraíam ainda mais dentro da pele, vigilantes e matreiros...[17]

A odisseia de um povo em cata de ventura faz relembrar, em parte, neste romance, a Parábola Dos Trabalhadores Na Vinha / Parábola dos Operários da Vinha dos Evangelhos:

O reino dos céus é semelhante a um proprietário que saiu de madrugada a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com os trabalhadores o salário de um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Cerca da hora terceira saiu e viu que estavam outros, ociosos, na praça, e disse-lhes: «Ide também vós para a vinha e pagar - vos - ei o que for justo.» E eles foram. (...) Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para a vinha. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a vinha. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Disse-lhes ele: “Ide também vós para a minha vinha e dar-vos-ei o justo salário”. Eles foram (...) [18]

No romance Vindima, em que Torga emerge para o contemplar, esse povo é já a roga humana que começa a tomar consciência de si mesma, do sofrimento que é herdado e é a herança de gerações.

Eram quarenta pessoas ao todo, entre homens, mulheres e crianças. Foi o Seara, feitor da Cavadinha, que os apalavrou um a um, de casa em casa, mais como anunciador de uma boa-nova do que como contratador de animais de carga. Quem podia com as pernas ia aceitando logo, porque feitas as malhadas, Penaguião é uma eira de palha moída, já bafejada das primeiras aragens frescas, sem ganhos, desolada, à espera das grandes invernias. E quinze dias de trabalho fora apetecem como um bálsamo. Só a Júlia Chona é que não se deixou seduzir pela miragem, e disse alto e bom som que antes queria morrer de fome em Penaguião, de costas direitas, do que estoirar com moscatel, de cadeiras derreadas, no Doiro.[19]

Aparecem retábulos e imagens vivas no decorrer do texto que, deslocando-se num espaço e num tempo onde se cruzam diversas personagens e espaços, englobam o Douro e Lamego:

Numa curva da estrada, o Doiro apareceu. O rio Pinhão, depois de atravessar as duas pontes, a da estrada de macadame e a do caminho de ferro, entrava-lhe no flanco ainda a espumar, e a luz do sol a pino reverberava, crua, no caudal majestoso. Os olhos secos da Montanha, fundos como as fontes de chafurdo, arregalavam-se de espanto diante da levada de oiro. Para muitos o espectáculo não tinha novidade. (...)
Uma sensação de longe, de coisa que arrasta a gente sem a gente querer, tirava-lhes a segurança firme das fragas. [20]

Passada uma hora, entraram no antigo e belo paço episcopal, e, apesar da solidão humana que sentiam longe dos companheiros apetecidos, não se cansavam de admirar a tábua ingénua e sugestiva que os trouxera ali. Aquele Grão Vasco lírico e genesíaco dizia-lhes mais do que o outro, ou os outros, de Viseu e de Tarouca. Aí, a candura rural do desenho perdia-se num formalismo canónico e retórico. Um S. Pedro paramentado, embora de olhar aldeão e matreiro, significava o esmagamento do natural pelos símbolos do sobrenatural. E a sensibilidade pedia-lhes naquela hora uma simples exaltação do que na vida fosse apenas evidência terrena, milagre profano e procriador.
Ora, no quadro que tinham diante havia justamente essa revelação virginal do começo. Um Deus quiromante e fantasista tirava das trevas formas animadas e agradecidas. Uma corte de bichos contemplava, ainda pasmada, o gesto demiúrgico. [21]

Vindima é um belíssimo texto poético que retrata um comportamento colectivo do qual Torga é o pintor, e onde é fácil descortinar o profundo sentimento de identidade do próprio escritor, poeta, médico e sobretudo transmontano.
Sente-se que Torga dá voz, aos que, «(...) toscos e limitados às paredes do seu pequeno mundo, (...)arrancavam da alma, indiscriminadamente, pedras preciosas e seixos.(...)».[22]
O narrador funciona como o eco da dor daqueles que só podem exprimi-la em gritos mudos e suor sofrido.

Descer à Ribeira é uma aventura da Montanha desde que há videiras no mundo. (...)
Pais e filhos jogam naquela lotaria. (...)
O que é, volta, muda-se, varia-se, passam-se quinze dias que não cheiram a tristeza nem a fuligem. Vive-se! [23]

Regressar às origens, apanhar as nossas raízes bem profundas é um cenário que se anuncia constantemente em Vindima.
Através de personagens diversas mostra-se a visão de dois mundos: natureza/cultura, campo/cidade. Da cidade vem-se ao Douro tomar posse do tesouro que assegura a fortuna de uma vida.

Embora a sede da casa comercial fosse em Gaia, de cujos armazéns o vinho saía depois para o mundo inteiro, as fontes da nascente eram no Doiro, e ninguém queria deixar de distinguir com a sua presença, ao menos uma vez no ano, o berço da fortuna. Uma espécie de posse física periódica, que acautelasse de prescrição o maná providencial.[24]

O dr. Bruno não deixara Lisboa para ver vindimar cachos, ou para assistir ao terramoto da nobreza em Portugal. (...) Era uma destas natureza ricas e pobres ao mesmo tempo, movidas por altas ambições que nunca se realizam. Almas que põem tanta avidez no que desejam, tanta inquietação no que procuram, que tudo lhes foge das mãos no momento crucial.[25]

Para os homens e mulheres da terra, porém, a vindima é o tempo e o espaço de renascer, na festa de comunhão com a natureza.

De resto, o grande sonho da terra em todo o ano é entrar numa roga. Descer à Ribeira é uma aventura da Montanha desde que há videiras no mundo. Vai-se à festa pagã da colheita dos cachos com a seiva da mocidade a florir ou com a secura da velhice a reverdecer. A serra dá vinho maduro, doce e cor de topázio, (...) A brancura mansa do leite das ovelhas enche a alma de candura morna e o corpo de uma força virginal e conformada.[26]

Agora o pólo da vida era no Doiro, nas terras do calor e da doçura.
Saíram de Penaguião um domingo de madrugada, debaixo de um céu estrelado que era um altar. (...)[27]

O Autor, para além duma referência moral é sobretudo uma referência cultural, pois a consciência de Portugal é autêntica a nível do sagrado e do religioso:

Mas cingira o sacrifício no seu já crónico vestido negro, severo e triste como um hábito de penitência.[28]
Sagrado coração de Jesus,
Eu tenho confiança em vós.[29]

Todas as indicações ao longo de Vindima, dão ao trabalho vitícola, um sentido mítico, simbólico, religioso.[30]
As edificações durienses unidas a lagares e por vezes a adegas, a beleza das grandes quintas solarengas formam elementos de abundância em contraste com as cardenhas que simbolizam sociologicamente a pobreza. A necessidade de um grupo de homens, mulheres e crianças que se deslocavam a pé, por caminhos íngremes, em animadas e longas jornadas para cumprirem a missão do trabalho, movia pelas encostas as rogas.

Cada canção – um hino de louvor. E os cestos acogulados, que desciam a escadaria de xisto aos ombros dos fiéis devotos, numa fila indiana, sonora e ritual – a dádiva desse amantíssimo Senhor, que só pedia contentamento em troca dos seus frutos. Dir-se-ia que tudo naquele paraíso suspenso se movimentava lúdica e religiosamente. Nenhuma mágoa, nenhum ódio, nenhuma desconfiança do futuro. Alegre, a alma do romeiro entregava-se pressurosamente ao esquecimento colectivo que alijara do mundo as misérias e os desenganos.[31]

Contempla-se um palco maravilhoso - o mundo transmontano. A paisagem, bem emoldurada de serranias e ambientes rurais, reflecte o pensamento e o estado espiritual dos homens e mulheres desta região.
A região duriense figura no romance Vindima e no conto “Vindima” como uma só identidade cultural. As crenças religiosas, festas, saberes e o suor do lavrador são o pano de fundo para a caracterizar.
A vindima, tarefa maior entre todas as do ciclo da vinha e do vinho, atinge um verdadeiro alcance de teatralização e é descrita em termos de ritual religioso.
O léxico do religioso está omnipotente, e sublinha a dureza da vida marcada pelo sofrimento contínuo, aliado ao trabalho do homem nesta região.

E os peregrinos acorriam de longe, chamados pelo aceno das vides. [32]
A mulher, a D. Maria Jorge, ao lado dos filhos, lia um livro devoto.[33]
Alheio a estas transcendentes congeminações, o rebanho ia tagarelando. (...)
(...) a D. Maria Jorge mergulhou os olhos escandalizados no livro santo.[34]

O Cristo macerado da doutrina, eternamente agónico na cruz de uma redenção a que a morte nem sequer dava início, porque o juízo final continuava adiado, parecia-lhe apenas o símbolo dramático do incorrigível optimismo humano. A esperança a nascer da própria renúncia divina...[35]
Alberto olhou-a como um Cristo no pretório.[36]
– De maneira que está a ver! Empresas que parecem muito sólidas, e sabe Deus... Situações aflitivas.
Fino observador, o dr. Bruno procurava descobrir a realidade que correspondesse ao sudário.[37]

Por mais voltas que desse, era um condenado às penas de um purgatório (...)[38]

A essência da obra de Torga repousa num horizonte e num palco de terra genesíaca - Trás-os-Montes.
Não se pode nem se deve dissociar a realidade terrestre, animal, humana, histórica, social, geográfica, pois em Vindima tudo se desenvolve naturalmente, como de uma odisseia se tratasse.
O povo é caracterizado de uma forma global, submisso, violento, ignorante e sábio.
Os seus horizontes são os da sua terra, confinados à montanha:

- E para onde vai tanta água? - perguntava o Chico, espantado.
- Para o mar...
- E o que é o mar?
- O mar...
Infelizmente ninguém lhe sabia responder. Só o tio Adriano fora um dia ao Porto operar o estômago, e o mar não começava no Porto...[39]

O Douro é mencionado como um santuário, onde gentes peregrinam com sofrimento para obterem a graça da vida - o pão para o resto do ano que se aproxima.

Encostados aos moirões dos bardos e das ramadas, ou deitados pelo chão num descanso mais largo e mais franco, os trabalhadores ouviam o programa com os olhos desiludidos postos na sardinha e na broa. (...)
Estavam ainda na primeira estação de via sacra, no ponto em que as vergastadas doem dobrado.[40]
E agora, antes de se entregar inteiro a um repouso de morte, o corpo necessitava de conhecer em que sítio se iniciava a vida quando viesse a ressurreição.[41]

Os homens queixavam-se da sua condição miserável, mas o trabalho, no fim de contas, é o preço que o trabalhador tem de pagar para conseguir uns momentos de lazer e algum prazer na evasão da dança e da música. As cantigas e a animação estavam presentes, nas grandes quintas do Douro, durante o trabalho e nos momentos de repouso, acompanhados com instrumentos musicais, como, por exemplo, a gaita de beiços, o violão, a concertina, o bombo e os ferrinhos.
E a propósito da amarga vida que levavam, era frequente o povo cantar e dançar nas eiras e terreiros ou no meio da vinha:

Ó minha mão dos trabalhos,
Para quem trabalho eu?
Trabalhos matam meu corpo,
Não tenho nada de meu.

Sim, sim, Manuel Joaquim.
Pra que é que se faz assim?
Pra bater o pé no chão,
Pra tocar no bandolim.[42]

Sardinha tairrenta,
Pão de cevada,
Vinho vinagre,
Cava e enxada.

Vinho vinagre,
Pão bolorento.
Entra a enxada
De olho pra dentro.

Ao almoço, dão-me peras;
Ao jantar, peras me dão;
À merenda, pão com peras
E, à noite, peras com pão.

Adeus, ó Casa Amarela,
Casa de grandes alturas.
Potes grandes,
Poucas guerduras.[43]

O cancioneiro popular duriense está cheio de referências às situações de dureza e quase miséria a que os trabalhadores eram sujeitos. Da jorna pouco sobrava, depois de pago o transporte para a outra margem do Douro, indispensável para o regresso a casa.

Fui ao Douro às vindimas;
Não achei que vindimar.
Vindimaram-me as costelas
- Olha o que eu fui lá ganhar!

Fui ao Douro às vindimas:
Pagaram-me a trinta reis.
Vim pela feira do Peso
Empreguei-o em anéis.



Mas também se canta a alegria do trabalho partilhado que é, frequentemente, ocasião para a vivência do amor.

Não se me dá que vindimem
Videiras que eu vindimei.
Não se me dá que outros provem
as uvas que eu já provei.[44]

Ó videira, dá-me um cacho,
Um cacho de malvasia.
Em troca, darei-te um beijo,
Oh minha linda Maria.

Toca a cantar,
Toca a folgar
E sem parar,
Que isto é cedo ainda.
Junto à vindima,
A cortar os louros cachos,
Dão-se ternos abraços:
A vindima assim é linda.

Ó videira, dá-me um cacho.
Ó cacho, dá-me um respigo
Para dar ao meu amor
Que anda de neta comigo.

Ó videira, dá-me um cacho de moscatel
Para dar ao meu amor
Que se chama Manuel.[45]

A componente cultural de lazer está sempre associada por oposição ao trabalho, pois o dia-a-dia dos trabalhadores no contexto rural do espaço duriense, aviva imagens seculares ligadas aos instrumentos e aos trabalhos agrícolas. Os sentimentos de desespero, dor, raiva e alegria são também a imagem deste povo, que consegue, através do sonho, tomar fôlego para regenerar o seu cansaço. A necessidade de vencer as situações adversas do duro trabalho, desde a safra de cavar, sulfatar videiras à vindima, fazem com que os homens criem espaços de lazer artístico, por forma a sublimar o trabalho. É assim que o homem duriense, após intensa actividade agrícola consegue arranjar momentos de descontracção, ora tocando, dançando, jogando, ora compondo cantigas com rimas. É de salientar que todas as festas, romarias e outras actividades de lazer que acima se referiu, são consequência da existência do trabalho a que o homem está sujeito. Se por um lado o velho ditado “conforme se toca, assim se dança” está relacionado com o trabalho e o divertimento, como consequência do primeiro, o facto de se realizarem feiras, festas e romarias são também uma forma de, após meses de labuta, o povo agradecer religiosamente o pão que recebeu, durante o ano, mas também poder gastar o dinheiro em vestuário ou algo que lhe dê prazer.[46]
Vindima retrata como, através de passos de dança improvisados, homens, mulheres e crianças dançavam, cantando o duro trabalho, a miséria do dinheiro que recebiam e os incidentes amorosos que aconteciam com frequência, durante as vindimas:

À noite, no baile, a Preciosa embalara-se-lhe nos braços, tonta como uma cana de foguete. Lisonjeada pela preferência do rapaz, que a fora tirar no meio doutras que ela julgava mais bonitas, a cachopa, leve e airosa, deixou-se voar naquele redemoinho de entusiasmo.[47]

A interioridade a que se está votado em Trás-os-Montes e Douro dá uma visão dum sistema cultural em que os trabalhadores são os verdadeiros agentes do desenvolvimento da tradição. O aproveitamento e a animação dos tempos livres era criado e recriado pelos trabalhadores, homens da terra.

O harmónico repenicava-se todo em redor dela. Os ferrinhos a dizerem que sim, que sim. E o bombo, apesar da tristeza a que a pele de cabra o condenava, a fazer quanto podia para dar também um ar da sua graça.[48]

A gente do trabalho é caracterizada por Torga como gente de uma inteligência intuitiva, um pouco maliciosa, gente sem descanso, sem juventude, sem infância, mas de uma sabedoria que lhe provém da experiência. Trabalho e lazer convivem entre si, de outra forma não se poderia caracterizar a vindima nesta região.

E o do harmónico deu ao fole, num acorde, a doirar a covardia. Passada a última casa, começava a descida da serra. À medida que iam andando, a jogar a cabra-cega com as fragas, a aldeia, cada vez mais distante e cingida ao seu bioco de colmo, lembrava uma mãe abandonada. E alguém cantou:
Adeus, adeus, minha terra,
Berço da minha alegria,
Penaguião vem de pena,
Mariana de Maria.
As raparigas deixavam vir à tona os encantos soterrados, os rapazes davam largas à inspiração, e os velhos iam pouco a pouco perdendo também o ar encardido, num renovo de esperança. Cada palmo percorrido era uma ruga a menos, na alma e no corpo.
Todos os desassossegos e martírios do ano pertenciam agora a um remoto passado, esquecido e morto. A romaria às terras do vinho embebedava-os e rejuvenescia-os.[49]

O cenário predilecto - o Douro - é memória de serras, rios, árvores, ruralidade, de homens viris e mulheres femininas, crianças ingénuas que cantam a glória da vida e corajosamente trabalham lado a lado do sol, cumprindo a penitência da vida.
Torga assume, na primeira pessoa, esta ligação à terra, forte, quase ontológica:
«Cuido que as coisas mais válidas que escrevi, sabem à terra nativa que trago agarrada aos pés.»[50]
No entanto , a sua escrita transcende o espaço que lhe dá origem. Com efeito, a obra de Torga não é um espaço limitado ao microcosmos humano do artista, é antes um grande projecto criador, animado pela confiança indestrutível no homem, expressão de uma vida ao serviço do presente e do futuro.

Manuel Alegre adverte:
Não busquem em Torga a verdade revelada; ele sai, antes de entrar, de qualquer paraíso. Não busquem nele abstracções míticas de um nacionalismo serôdio e estreito; procurem antes este Portugal que somos a “choutar” numa praia do Ocidente. E lá vereis os valores permanentes e o “rosto inconfundível” de uma pátria.[51]

A dimensão telúrica da sua obra não a fecha em horizontes limitados ou regionalistas. Pelo contrário – nela é a vibração do humano que se faz sentir. Nela palpita o mais profundo da identidade portuguesa.

Escritor situado no concreto, ligado ao húmus natal, dir-se-á que pela via do casticismo atinge a universalidade? É dizer pouco, embora signifique muito. Torga não é apenas expressão duma paisagem ou duma “alma” colectiva. Afirma-se como personalidade única, de singular poder criador. A sua obra é ele e a Natureza, ele e Portugal, um Portugal que, em parte, o fez mas que, em parte, ele inventou, como Unamuno “gerou” a Espanha nas suas entranhas.[52]

Como sublinha António Quadros,
A arte de Miguel Torga é a arte de saber escolher os casos, as figuras, os cenários, os temas que, desenvolvendo-se com extraordinária naturalidade, melhor simbolizam um encontro cósmico e quase virginal entre os homens e a natureza, exprimindo a dramaticidade dos antagonismos que medram à sombra da tragédia montanhosa. É a contrapartida do mar épico. Reclusa entre montanhas que não levam à aventura ou à viagem, a vida resolve-se em adormecimento ou em tragédia.[53]

Esse encontro cósmico entre o homem e a natureza é, frequentemente, uma luta, ganha pela natureza.

O Doiro tem essa estranha mão transfiguradora. Passada a primeira semana, em que as caras se conservam humanas e domingueiras, a barba cresce, a roupa esfarrapa-se, encarde-se de surro e de mosto, e todos adquirem um ar feroz, de animais.[54]

A lama de cinco meses de inverno, que a primavera apenas endurecera, era agora uma camada de poeira fofa pelo caminho além, a escaldar. O sol, depois de empassar as uvas, queria empassar a terra. (...) E, mal o Doiro apareceu lá em baixo, ao fundo, como uma veia aberta a escoar-se morosamente do corpo ciclópico dos montes, atirou logo:

Foi no Pinhão…
Ia a vindimar um cacho,
Vindimei-te o coração.

Tinham findado de todo os horizontes largos do planalto, onde a alma corre de fraga em fraga, sempre à vista do céu. Encostas negras, em escada, cobertas de estevas ou reiçadas de zimbro, faziam tudo para entristecer quem lhes passava ao pé. À esquerda, um despenhadeiro de meter medo; à direita, uma penedia por ali acima, que só de vê-la faltava a respiração; ao longe, mortórios escalvados e desiludidos. Mas o grande rio doirado, que a luz da tarde transformara numa barra cintilante, chamava a si toda a atenção dos olhos, e a paisagem emergia do abismo engrandecida e transfigurada.[55]

Foi nesta paisagem de rochas, montanhas, rio, serra, vides, bardos, acordeões, festas, sonhos e trabalho que se formou a identidade cultural desta região, hoje considerada Património da Humanidade. Uma paisagem que Torga canta, incessantemente, também na poesia.

Doiro
Suor, rio, doçura.
( No princípio era o homem...)
De cachão em cachão,
O mosto vai correndo
No seu leito de pedra.
Correndo e reflectindo
A bifronte paisagem marginal.
Correndo como corre
Um doirado caudal
de sofrimento.
Correndo, sem saber
Se avança ou se recua.
Correndo, sem correr.
O desespero nunca desagua...[56]

Doiro
Corre, caudal sagrado,
Na dura gratidão dos homens e dos montes!
Vem de longe e vai longe a tua inquietação...
Corre, magoado,
De cachão em cachão,
A refractar olímpicos socalcos
De doçura
Quente.
E deixa na paisagem calcinada
A imagem desenhada
Dum verso de frescura
Penitente.[57]

Vindima
Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.

Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
alegres como peças de brinquedos.

Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.

Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.[58]


Em jeito de síntese, citamos António Freire.

Torga é, a par de Camões, o maior cantor da gente portuguesa. Camões foi o épico que imortalizou as gestas dos Portugueses de antanho; M. Torga é o lírico que, em prosa máscula, poética, criativa, imagética e vernácula, aprofundou os meandros mais subtis e a riqueza mais exuberante da alma portuguesa. Camões lançou-se aos mares nunca dantes navegados e sondou as pegadas lusas nos solos tórridos das Áfricas e das Índias. M. Torga percorreu Portugal de lés a lés, perscrutou-lhe todos os seus rincões, sentiu o palpitar do coração da gente lusa e pintou com pinceladas indeléveis de colorido e de humanismo o labutar heróico das populações no seu interminável moirejar. Nem Garrett, nas Viagens da Minha Terra, nem Antero de Figueiredo, nas Jornadas em Portugal, lograram transmitir-nos uma imagem tão perfeita (...), tão grandiosa e tão palpitante da paisagem e da vida do nosso povo.[59]

[1] Cf., “Homenagem a Miguel Torga”, Colóquio Letras (1995). nº 135/136, Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, p. 5-18.
[2] FREIRE, António (1990). Lendo Miguel Torga, Porto: Edições Salesianas, p.10.
[3] CHORÃO, João Bigotte ,“Como é Torga?”, Colóquio Letras,nº98 (Julho - Agosto,1987), p.20.
[4] MOURÃO-FERREIRA, David, “Homenagem a Miguel Torga/Saudação a M.Torga”, Colóquio Letras,nº98 (Julho-Agosto,1987), p.9.
[5] Dactiloscrito, acrescentado à mão, citado por ROCHA, Clara (2000). Miguel Torga Fotobiografia, Lisboa: Publicações D. Quixote, Lda, p. 98-100
[6] LINHARES FILHO, “O poético como humanização em Miguel Torga”, Colóquio de Letras,nº98 (Julho -Agosto,1987), p.13.
[7] ANDRESEN, Sophia M.B., “Homenagem a Miguel Torga”, Colóquio Letras,nº98. p.8.
[8] MACHADO, Álvaro M., “Miguel Torga ou a impureza da criação”, Colóquio Letras,nº43 (Maio,1978),
p.48.
[9] Cf., COSTA, A. L. Pinto da (1997), Alto Douro terra de vinho e de gente, Lisboa, Edições Cosmos, p.48.
[10] TORGA, Miguel, Vindima, Coimbra: 4ª Edição revista.
[11] Recorde-se que o coordenador do projecto de candidatura, do Douro a Património Mundial, Fernando Bianchi de Aguiar, considerou que o Alto Douro é “um exemplo de paisagem que ilustra diferentes etapas da história humana e representa uma paisagem cultural evolutiva e viva”. O que justifica o facto desta região ter vindo a integrar um grupo restrito de locais que detêm o epíteto de Paisagem Cultural, uma designação criada em 1992 pela UNESCO para as paisagens que combinam o trabalho humano com os valores culturais, constituindo assim um valor universal reconhecido.
[12] TORGA, Miguel, Vindima, ed. cit., p. 22.
[13] Idem, p. 29.
[14] Idem, p.242.
[15] Provérbio Beirão.
[16] TORGA, Miguel, Diário XII, ed. Publicações Dom Quixote, Lda., Porto, p.180
[17] TORGA, Miguel, Vindima, ed. cit., p.39.
[18] Evangelho Segundo São Mateus, 20, 1-5, Novo Testamento, Editorial Missões, 1995, p.41.
[19] TORGA, Miguel, Vindima, Coimbra: 4ª Edição Revista, p.7.
[20] Idem, p. 12
[21] Idem, p. 225 - 226.
[22] Idem, p. 242
[23] Idem, p. 8
[24] Idem, p. 30
[25] Idem, p. 34
[26] Idem, p. 7 - 8.
[27] Idem, p. 9.
[28] Idem, p.65.
[29] Idem, p. 31.
[30] Cf., COSTA, A. L. Pinto da (1997), Alto Douro terra de vinho e de gente, Lisboa, Edições Cosmos, p.243.
[31] TORGA, Miguel, “Vindima”, Contos, Porto, Publicações Dom Quixote Lda, p. 300.
[32] TORGA, Miguel, Vindima, Coimbra: 4ª Edição Revista, p. 13.
[33] Idem, p.23.
[34] Idem, p.25.
[35] Idem, p.78.
[36] Idem, p.83.
[37] Idem, p.88.
[38] Idem, p.29.
[39] Idem, p. 13.
[40] Idem, p. 18.
[41] Idem, p. 14.
[42] CABRAL, António (1983), Cancioneiro Popular Duriense, Centro Cultural de Vila Real, SCARL. p. 111.
[43] Idem, p. 43.
[44] CABRAL, António (1983), Cancioneiro Popular Duriense, Centro Cultural de vila , Centro Cultural de Vila Real, SCARL. p.68.
[45] Idem, p. 127.
[46] Cf. CABRAL, António (1983), Cancioneiro Popular Duriense, Centro Cultural de Vila Real, SCARL. p. 11-20
[47] TORGA, Miguel, Vindima, Coimbra: 4ª Edição Revista, p.116.
[48] TORGA, Miguel, Contos, Vindima, Porto, Publicações Dom Quixote Lda, p. 298.
[49] TORGA, Miguel, Vindima, Coimbra: 4ª Edição Revista, p.10-11
[50] TORGA, Miguel, Diário II, ed. Publicações Dom Quixote, Lda., Porto, Diário II, p.150
[51] ALEGRE, Manuel, desdobrável de apresentação de Obras Completas, de M. Torga. Revista do Círculo de Leitores, Julho e Agosto 2001.
[52] M. Torga, Obras Completas, Ed. Círculo de Leitores.
[53] QUADROS, António, (1996) Moderno renovador do conto português, Boletim Cultural, VIII série, nº3, Setembro. Fundação Calouste Gulbenkian.
[54] TORGA, Miguel, Vindima, ed. cit. p. 267.
[55] TORGA, Miguel, Contos, A vindima, Porto, Publicações Dom Quixote Lda, p. 298 - 299.
[56] TORGA, Miguel, (1999) Antologia Poética, Publicações D.Quixote, Lda., Porto, p. 364.
[57] TORGA, Miguel, (1999) Antologia Poética, Publicações D.Quixote, Lda., Porto, p. 401.
[58] Idem, p. 73.
[59] António Freire (1990), Lendo Miguel Torga, Porto, p. 216.



in À Procura de Uma Identidade Cultural - o trabalho e o lazer no contexto rural do espaço duriense.

Cristina Correia