quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estranho tempo o tempo de espera


É no despontar da noite ao alvorecer dos rios que adormecem as aves
sonham os olhos serenos por entre os flancos pálidos dos vales...
as árvores permanecem eternas
e a povoar o cântico das palavras encontro o texto branco dos pássaros
estranho tempo o tempo de espera
as pedras os passos os livros o olhar ínvio dos gatos
Escrevem-se os dias sem espaço de cor pardacenta
e dizem os poetas o texto calado mudo surdo
vindimado
nas ruas que ninguém vê, as lágrimas rolam nos passeios
nas caixas...
há côdeas, há pobres,
muitos pobres... e fome que se esquece
e dizem os poetas o texto calado mudo surdo
vindimado
solstício de mel, de aromas de vinho,
de canela, de lembranças e de bolinho,
sobre a toalha de renda um farnel recheado
na terra húmida
sente-se vibrar o trepidar forte da natureza mãe
Eis aqui os teus Filhos!
Ainda há abraços fraternos esquecidos.
No recinto sagrado das almas fizeram-se silêncios
e as chuvas caíram
durante três dias e três noites
na terra das palavras plantaram-se folhas de seda
sete abraços enfeitaram pedaços da terra do céu
sete liras cantaram melodias junto dos esquecidos
renasce o odor da terra
estranho tempo o tempo de espera.
Cristina Correia