segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O sol da savana


O sol intenso a bater na savana, o replicar constante da cigarra, o cheiro acre a terra húmida e aquela curva no fundo da picada que a vista esperta mal alcança, tem sombra de cajueiro, tem fruto de djambalau, tem gente muito chonguila, tem bicho maningue mau. Tem vida que vai e que vem. Tem vida que vai e não volta.

Ali, onde o homem e a natureza se fundem e se confundem. Onde trocam olhares cúmplices. Onde se enamoram e sorriem ao tempo que passa, que passa devagar, devagarzinho, num olhar que chiqui-chiqui noutro olhar. Ali, onde o bafo quente em forma de vento manso, afaga um encantamento doce que ondula ao som longínquo do batuque e da timbila seu sentimento primoroso que outro sentimento lhe há-de acorrentar.

Ali, onde o chamamento rijo brota musculoso das profundezas da terra no agitar maluco duma marrabenta que ecoa desvairada na tarde finda que a noite estrelada vai chamando. Ali, onde a sura, seiva da palma, faz feitiço possante nas cabeças, sente-se vibrar o trepidar forte dos corpos felinos que desafiam o danado do xicuembo e lhe fazem figas de eternos desafios.

Ali, onde o bicho fome bota fora, no caminho da estrada, sua força de grandeza grande, noutro bicho que outro bicho, outro dia, lhe vai comer.

Ali, onde a gente não tem mais nada que sua presença na planície larga, onde a vida não sabe que um dia vai, o sorriso vem num raio de sol… e passa de mão em mão… fazendo quantidade imensa a alegria que recebeu, em dia de saguate, da mão de seu irmão.


José António Santos