A palavra reveste uma indiscutível força poética, uma narração em torno de uma emotividade essencial ao Humanismo. E é justamente através da emotividade - na força poética da palavra - que o poeta desencadeia o dispositivo da criatividade no leitor e que floresce a partir do diálogo. Dá-se, assim, o enlace entre a alma e o humanismo, a única e singular assinatura do mundo - o respeito, o afecto e amizade que damos uns aos outros. CCcerne e verso.
Camilo Castelo Branco "Os Amigos"
Amigos cento e dez, e talvez mais,
eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis da cortesia,
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez, houve um somente
que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver". . .
- Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco